sexta-feira, 6 de março de 2009

A razão dos outros

Zeev Maoz, professor da Universidade da Califórnia, revisita raízes do conflito árabe-israelenseCarlos HaagEdição Impressa 156 - Fevereiro 2009
Pesquisa FAPESP

Ao afirmar que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, Clausewitz não imaginou que seria possível inverter-se a ordem dos fatores para fazer da guerra uma forma de política. Para o cientista político Zeev Maoz, diretor do Programa de Relações Internacionais da Universidade da Califórnia, Davis, e autor de Defending the holy land: a critical analysis of Israel’s security and foreign policy, essa tem sido a forma como Israel vem conduzindo a sua política externa. “Israel não tem uma política de paz, apenas uma política militar. Isso vale tanto para as negociações com os Estados Árabes (ou seja, a total falta de resposta às iniciativas sauditas e às resoluções da Liga Árabe de 2002 e 2007) como em suas relações com os palestinos. Mas o fato de ser um Estado militarista não impede que Israel seja, também, uma democracia, uma sociedade civil altamente desenvolvida. Uma coisa não invalida a outra”, explica Maoz. Tendo servido como soldado e oficial em várias guerras israelenses, inclusive as do Yom Kippur e a do Líbano, o professor pesquisa a fundo, e sem preconceitos, o que chama de tratamento “acrítico” de muitos em Israel sobre as bases da doutrina de segurança nacional do país e de como essa, ao apresentar muitos equívocos, precisaria ser reavaliada.

Maoz faz parte do grupo de novos historiadores israelenses que desafiam tradições historiográficas consolidadas como o papel de Israel no êxodo palestino em 1948 e contestam a existência de uma falta de vontade política árabe de discutir a paz com os judeus. O movimento reúne pesquisadores como Benny Morris, Ilan Pappé, Avi Shlaim, entre outros, que trabalham a partir de fontes documentais saídas dos arquivos governamentais, há pouco liberadas à pesquisa, já que as instituições árabes, em sua maioria, não possuem arquivos abertos (daí que sua pesquisa se concentre em Israel). “Eu acredito que estudos sérios desse tipo terão um efeito positivo no longo prazo, pois o conhecimento é base para a mudança pensada e estruturada. Embora os israelenses sejam um povo, em geral, crítico, existe um consenso em muitos pontos fundamentais das políticas externa e de segurança, o que é uma coisa boa quando baseada em princípios e hipóteses corretos. Meu temor é de que os fundamentos da doutrina israelense de segurança se transformaram em princípios religiosos em vez de concepções que precisam ser testadas diante dos dados empíricos”, avalia. Para ele, Israel precisaria aprender a pensar antes de atirar. “Uma política militar não pode ser um substituto permanente para a diplomacia, e subjugá-la continuamente a considerações de segurança leva ao erro tanto da política militar quanto da externa. Opções políticas e diplomáticas devem preceder as militares: a força é serva da diplomacia e não o contrário.”
Fonte: Fapesp

Nenhum comentário:

Fontes contemporâneas: imprensa, organizações, associações...

Fontes contemporâneas: imprensa, organizações, associações...

Iconografia

Iconografia
Paris, 1968

História das esquerdas latino-americanas

História das esquerdas latino-americanas